15 de agosto de 2008

A TV ESTRAGA O TRABALHO DA ESCOLA

“Televisão estraga o trabalho da escola”, afirmou o professor Abgar Renault. Segundo a opinião daquele mestre, a televisão está levando o jovem a uma limitação vocabular profunda de apenas trinta ou quarenta palavras básicas ao se comunicarem e em razão dessa pobreza de vocábulos, o jovem utiliza sempre gíria.
Ainda sobre o problema da televisão na escola o presidente da Comissão de Educação, senador João Calmon (Arena – ES), e diretor geral dos diários Associados, assim se manifestou: “O serviço da Censura é o principal responsável pela exploração do sexo e da violência na TV e que o Brasil paga um dos maiores preços “per capta” por tais programas”.
O ministro das Comunicações, Quante de Oliveira, disse: “O Brasil está pagando, a cada ano, milhões de dólares para liquidar a sua juventude”. – “A cada 100 horas de programação vendida ao nosso país, continuou o Ministro, o espectador assiste a um total de cenas entre assassínios, fuzilamentos, suicídios, incêndios, atropelamentos, batidas propositadas, linchamentos, explosões, ameaças veladas e chantagens”.
O mal lamentável em tudo isso é que, segundo senador João Calmon, todos esses programas de rádio e TV são previamente examinados pelo Departamento de Censura. Aí vimos que os interesses empresariais estão acima dos da Escola, da sociedade e da própria juventude brasileira, porque à Censura não podia passar o que poderíamos chamar de pusilanimidade, frente a um assunto de suma importância qual seja no que diz respeito com a educação do jovem, ou seja, a sua própria formação.
Não revelamos nenhum fato novo em dizer que a educação da juventude brasileira de hoje é grandemente prejudicada por diversos fatores que influenciam diretamente nos sentimentos de nossos jovens, desviando-os dos objetivos educacionais e do aproveitamento do ensino, em termos formativos e de conhecimento. Sabemos que este fato é uma decorrência do processo assistemático que prevalece sobre a sociedade em seu todo, sendo também a Escola atingida pelos efeitos dos novos elementos que fazem distorcer os reais valores, que norteariam a formação dos jovens: A Escola é uma parcela viva da comunidade.
Entre os fatores negativos na educação das gerações presentes, contamos com a Televisão, com seus programas massificantes de novelas, a partir das primeiras horas da tarde até quase os últimos horários de sua programação.
Vamos relatar aqui um fato curioso que ocorreu esta semana num certo colégio em Fortaleza: O professor passou um teste de Geografia numa de suas turmas, com as seguintes perguntas: 1) – Cite dois Estados do Nordeste brasileiro; 2) – Dê as Capitais de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; 3) – Em que região está localizado o Estado do Amazonas? 4) – Qual o maior Estado brasileiro? 5) – Qual a Capital do seu Estado natal? 6) – Qual a Capital de seu país?
Respostas de uma das alunas: 1- Sobral e Camocim; 2 – Não respondeu; 3 – Brasil; 4 –O Ceará; 5- Não respondeu; 6 – Ceará. Decepcionado, o professor, para mostrar o quanto as novelas ofendem os jovens estudantes, passou um teste sobre a novela “Pai Herói”.
Perguntas: 1 – Quem é André Cajarana? 2 – O que faz Ana Preta? 3 – Onde nasceu Baldarate? 4 – Qual a autora? 5 – Em que canal passa a novela? 6 – Quem foi que mandou matar Carina?
Eis as respostas:
1 – Tony Ramos; 2 – Trabalha em Flor de Lys; 3 – Itália; 4 – Jannete Clair; 5 – Canal 10; 6 – César.
No primeiro teste de Geografia, a aluna tirou zero, como o leitor pode constatar pelas respostas dadas no teste, enquanto no teste sobre a novela “Pai Herói”, a mesma estudante acertou todas as perguntas, errando somente a grafia de alguns nomes, o que era de se esperar que acontecesse. Foi um dez, só que nada lhe foi atribuído, segundo explicou o professor, pois aquilo era absurdo, razão por que não merecia nota alguma. O teste foi somente para mostrar o quanto nossos alunos vivem desligados da Escola e voltados unicamente para coisas fúteis.
Aqui é o caso de se perguntar: Que poderemos esperar desta geração dos nossos dias, com uma juventude completamente desorientada e sem que a Escola tenha força para fazê-la retroceder do ponto a que chegaram?

Nemésio Silva - Publicado no CORREIO DO CEARÁ – 06/09/1979


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