Tenho digitado alguns dos artigos que papai escreveu para o seu livro. O interessante é que quanto mais faço esse trabalho mais percebo o quanto eu não tive oportunidade de conhecer melhor as suas idéias e o quanto me identifico com o seu modo de pensar.
Me chama a tenção a sua insistência em falar a verdade, mesmo que isso lhe custasse a antipatia de muitos. Vejo através de seus artigos que ele era sempre movido por um grande senso de ética e foi isso o que fez dele um grande homem.
Como homenagem pelo seu aniversário, publico aqui o último artigo que ele escreveu para o CORREIO DO CEARÁ, por ocasião de sua saída deste jornal. Para mim esse é um artigo simbólico, pois resume a sua personalidade e integridade moral.Sempre leal aos seus princípios, ele aproveita o seu artigo de despedida para fazer um desabafo.
Tânia Neiva.********************************************************************************
OBRIGADO, LEITOR Por uma questão de reconhecimento, sinto-me no dever de tornar público meu sentimento de gratidão àqueles que, diariamente, procuraram ler o que escrevo em minha coluna INFORMES, ou mesmo em qualquer outro espaço desta folha, desde que traga minha assinatura. Isto é muito natural, quando a gente se acostuma a ler a matéria de um jornalista, ou mesmo escritor, que forme seu público. É o que sempre acontece.
É evidente que não se trata aqui de uma despedida, não é isto, de uma mudança de jornal, já que fui despedido do CORREIO DO CEARÁ, sendo hoje meu último dia na empresa. Por isso estou aqui fazendo como que uma prestação de contas com o público que me acompanha, porque é com este público que tenho compromisso, como jornalista.
Passarei alguns dias, talvez, sem INFORMES, porque não cuidei ainda de meu engajamento noutro periódico da cidade. Deve ser questão de poucos dias que estarei fazendo falta a uns (ou muitos) e dando alívio a alguns – aqueles que não se sentem bem, quando digo a verdade, encarando os fatos e denunciando os erros, ou mais propriamente, aquilo que está errado.
A legião dos mistificadores aumentou muito nos últimos tempos, e esses sentem-se incomodados, revoltados e irritados até porque não gostam da verdade, como também não gostam de quem a usa. E a verdade é como a luz que penetra através de qualquer orifício por mais diminuto que ele seja.
Iniciei minha carreira jornalística em 1952 na GAZETA DE NOTÍCIAS, de Antônio Drumond, que deu a própria vida em holocausto à verdade, e todo aquele que a procura sofrerá também conseqüências. Quantos, na história do jornalismo têm sido vítimas dos que não gostam de ouvir a verdade. É dispensável, pois, enumerarmos fatos e citarmos exemplos, porque a História está juncada de episódios, desde os mais antigos aos mais recentes, aqui e alhures.
Mas voltando ao tem inicial, nunca me afastei de jornal durante esses 29 anos de trabalho jornalístico em que passei por todos os periódicos da terra e por alguns do Sul do País, até que vim esbarrar nos Diários Associados do Ceará, ingressando no UNITÁRIO em 1976, juntamente com meu velho e leal companheiro Dedé de Castro ao tempo editor do então simpático semanário, que era disputado, à unha, nas bancas das praças de Fortaleza. Em novembro do mesmo ano, Dedé saiu do UNITÁRIO, e eu continuei meu trabalho junto ao povo no CORREIO DO CEARÁ, de onde me despeço agora de meus editores, prometendo, muito breve, voltar ao reencontro e prosseguir na luta da mesma maneira como iniciei nos anos 50, certo de que estou sendo fiel ao cumprimento do dever para com o povo, em função de quem a imprensa deve existir.
Só me resta, pois, agradecer o apoio que tenho recebido, até hoje, convicto de que continuarei a tê-lo, quando regressar.
Obrigado, leitor.
CORREIO DO CEARÁ – 29/09/79